segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sugestão de leitura

Vale conferir!


A boca torta do monopólio


Texto de Samuel Lima para o Observatório da Imprensa, sobre os Jogos Pan-Americanos e como as Organizações Globo parecem ir contra seus princípios editoriais publicados há pouco.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dines e seus desprazeres

por Pedro Cunha*

Foi realizado pelo canal estatal TV Brasil um debate sobre a regulação da mídia. O programa produzido pelo Observatório da Imprensa, que teve como apresentador o jornalista Alberto Dines, contou ainda com o ministro das Comunicações Paulo Bernardo; a repórter especial da Folha de SP, Elvira Lobato; Aluízio Maranhão, editor do caderno Opinião do jornal O Globo, e o jornalista Ricardo Gandour, do grupo Estado. Além desses, o programa teve a participação do professor de comunicação da UNB, Venício A. de Lima.

Um debate no qual o maior interesse era discutir a questão da regulação da mídia, sobretudo, a regulação dos meios: rádio e TV.

A reportagem de Elvira Lobato - “Laranjas compram rádios e TVs do governo federal” - abordou a situação das empresas que são abertas em nomes de laranjas para comprarem concessões de rádio e TV. Empresas de políticos, igrejas, dentre outros casos, utilizam nomes de terceiros para realizarem a compra e, dessa forma, o nome do real proprietário fica às escondidas. Por motivos diversos, muitos deles de cunho político, os proprietários utilizam essa prática para chegarem aos meios de comunicação; situação que se torna cada vez mais problemática, pois esses meios têm um grande alcance e influência sobre a sociedade.

O debate caminhou por essa linha, entre discussões que incluíam a internet entre os possíveis meios que poderiam ser regulados pelo Estado. Alberto Dines acrescentou o relatório da UNESCO que apresentou estudos sobre a regulação da mídia, no qual eles mostram comparações do quadro brasileiro com marcos regulatórios bem sucedidos no mundo e são taxativos ao definir que regular é fortalecer a liberdade de expressão e não o contrário. A UNESCO prevê também a modificação na Constituição de 1988 com relação às concessões de rádio e TV e alega que deixar o poder legislativo outorgá-las é uma ameaça à democracia.

O ministro Paulo Bernardo fechou o programa respondendo ao jornalista Aluízio Maranhão a respeito da possibilidade inócua de se fazer o controle nas mídias digitais: “Isso é a mesma coisa de fazer uma lei obrigando o vento a soprar somente para o leste.”

Essas foram algumas das questões levantadas pelos participantes do programa exibido no dia 22 de março. No dia 29 do mesmo mês, Dines postou no Observatório da Imprensa um texto sobre a falta de reação e colocação da grande mídia para com o debate apresentado pelo programa. Ele foi taxativo ao dizer que “a grande mídia não abriu o bico porque ela deixou de ser uma entidade, está visivelmente dividida. Apesar da irreversível ‘convergência de conteúdos’, seus interesses e estratégias são variados e francamente divergentes.”

Foi com esse tom que Dines condenou a grande mídia de não se colocar perante essa discussão. Certamente, ele está ciente sobre a causa dessa abstenção, pois a grande mídia não vai colocar em pauta uma situação delicada como essa, sobretudo para ela.

Dines conclui o seu texto lembrando os seus leitores de um pormenor: “o único obstáculo à plena e imediata restauração do Conselho de Comunicação Social são as históricas idiossincrasias do presidente do Senado: José Sarney (PMDB-AP).”


(Baixe aqui os documentos da UNESCO: "O ambiente regulatório para a radiodifusão: uma pesquisa de melhores práticas para os atores-chave brasileiros", Toby Mendel e Eve Salomon; "Liberdade de expressão e regulação da radiodifusão", T.M. e E.S.; e "A importância da autorregulação da mídia para a defesa da liberdade de expressão", de Andrew Puddephatt.)


*editado por Lucas Rodrigues.

domingo, 16 de outubro de 2011

Censura X Campanhas publicitárias

Estamos em pleno século XXI e a palavra censura continua fazendo parte do nosso cotidiano e o ato de controlar e impedir a liberdade de expressão, muitas vezes praticados por grupos de poder é cada vez mais rotineiro. Mas até que ponto a sociedade pode ser impedida de ter acesso à informação?
Hoje é possível ver com clareza a censura presente em ações publicitárias como, por exemplo, propagandas televisivas que são vetadas por serem julgadas como ofensivas, ou mesmo pela possibilidade da transmissão de imagens ilícitas.
A questão da barreira moral no Brasil ainda não é bem definida para todos os veículos de comunicação. Na grade de programação das mais diversas emissoras de televisão, ainda nos deparamos com imagens de sexo, nudez, pessoas ensanguentadas, desrrespeito moral e atitudes antiéticas, além da desmedida demonstração de desigualdade social e até mesmo programas especializadas nestes temas.
De fato existem propagandas desnecessárias, que não podem e nem devem ser colocadas no ar, mas a iniciativa de banir uma manifestação somente se justifica se na mesma tenha sido identificado um conteúdo que irá ferir a moral de quem assiste, o que muitas vezes não acontece. E quando nos damos conta a propaganda já deixou de ser veiculada há muito tempo.
Existem os dois lados da moeda, o lado da sociedade e a capacidade da mesma de criar seu próprio juizo de valor e não deixar que os outros decidam por ela, e o lado do governo de vetar e peineirar imagens consideradas ilícitas da televisão brasileira, que de alguma forma possa ferir a imagem do governo.
Só este ano, podemos citar duas propagandas que teve seu conteúdo criticado: A campanha de lingerie da empresa Hope, estrelada pela modelo brasileira Gisele Bündchen e intitulada “Hope ensina”, onde a top model diz ao marido que bateu seu carro, primeiramente de roupa, e em um segundo momento usando somente peças intímas da marca, exemplificando os diferentes impactos que a notícia cousou no homem em ambas as situações.
A segunda campanha publicitária é a da marca Nissan com “Pôneis Malditos”, utilizados para caracterizar a pequena potência dos carros de outras marcas. Em ambas o CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária caracterizou as propagandas como abusivas e desrrespeitosas.
Segundo o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, nenhum tipo de publicidade pode conter imagens e nem fazer referência a ideais que ferem a honestidade, respeitabilidade e direitos do brasileiro.
As opiniões quanto a essa postura de veto à nossa publicidade, ainda são muito incertas. Existem aqueles que são a favor da retirada de tais propagandas do ar, por serem abusivas e de alguma maneira fazer referências inadequadas. Outros acreditam na idéia de que o brasileiro é capaz de decidir por si só, e distinguir se a campanha é apropriada ou não, ou mesmo se ele vai consumir o serviço ou produto que a propaganda oferece.
Enfim, o que se pode dizer é que essa situação sempre terá dois pontos de vista e a discussão sobre o assunto é muito maior do que foi ponderado aqui, o que fica é aquela velha pergunta: Se o leitor, telespectador e o internauta pode se servir a vontade de imagens ilícitas durante os telejornais e novelas, ou mesmo consumir um conteúdo totalmente inadequado em jornais e revistas impressas e online, qual é o sentido de vetar algumas poucas propagandas? Será que essa atitude realmente vai gerar resultados?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O papel da mídia na cobertura sobre assuntos relacionados à infância e adolescência

Tema foi discutido em palestra ministrada por Adriano Guerra e Carolina Silveira para os estudantes de jornalismo da Universidade Fumec



A turma do oitavo período de jornalismo da Universidade Fumec recebeu, na última quarta feira (05), o coordenador executivo da Oficina de Imagens, Adriano Guerra e a coordenadora de projetos da Rede ANDI Brasil em Minas Gerais, Carolina Silveira. O encontro teve como objetivo discutir a ética da imprensa ao tratar assuntos relacionados à infância e adolescência. Os palestrantes foram convidados por serem jornalistas engajados no assunto, por meio da Oficina de Imagens, e, também pela parceria com a Rede ANDI - Comunicação e Direitos.

Guerra explicou aos alunos um pouco da história da criação destas instituições, bem como o trabalho de ambas. O jornalista contou que a ANDI foi fundada em 1993, por um grupo de jornalistas e pessoas ligadas ao movimento da criança, com o objetivo de promover e fortalecer um diálogo profissional e ético entre as redações, as faculdades de comunicação e de outros campos do conhecimento, os poderes públicos e as entidades relacionadas à agenda do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos.

A Oficina de Imagens surgiu cinco anos depois. Foi fundada por colegas de faculdade do curso de jornalismo, que queriam levar a comunicação e os conhecimentos adquiridos para fora do ambiente acadêmico, principalmente a discussão política do direito da criança e do adolescente.

A Oficina e a Rede ANDI trabalham com o foco na cobertura de notícias relacionadas com a infância e a adolescência porque querem acompanhar de perto como está sendo desenvolvido o papel do jornalismo, que ocupa um destaque importante na formação do pensamento da sociedade civil. “O papel do jornalismo é prover um conteúdo com informação contextualizada, ou seja, é dar insumos a sociedade em relação aos seus direitos, colocar os temas relevantes na pauta e também, por outro lado, fazer um trabalho de cão de guarda que é monitorar, pressionar, controlar aquilo que é de violação de direitos, fazer denúncias etc. No caso da infância a gente tem um grande desafio. A percepção de que todas as crianças, independente da cor e classe social, devem ser protegidas contra as maldades do mundo é muito recente na sociedade. Foi uma mudança de legislação e de mentalidade. Mentalidade a gente não muda com decreto”, explica Guerra.

Além de apresentar o trabalho das instituições, questões a cerca de censura, cobertura de crimes que chocaram a população, como o caso do garoto João Hélio e da menina Isabela Nardoni, foram discutidos na palestra. Por trás desses temas, também é necessário debater a questão dos direitos humanos, que fica esquecido pela cobertura midiática. “O marco dos direitos humanos é uma coisa que deveria ser olhado com mais cuidado para poder refletir sobre essas situações que envolvem crianças e adolescentes e o seu retrato na mídia”, ressalta Carolina.

Uma pesquisa feita pela ANDI foi apresentada aos estudantes sobre a repercussão do tema na mídia. Os dados são uma comparação entre o ano de 1996 e 2009. A pesquisa mostra que temas que envolvem educação e violência vem polarizando o topo de assunto mais publicados pelos veículos de comunicação. Segundo Guerra, também houve uma melhora qualitativa nas matérias sobre infância e adolescência nos últimos anos. “A cobertura muito factual perdeu um pouco de espaço. Há mais reportagens contextualizando os fatos, muita matéria produzida para prêmios, um sinal que os jornais estão investindo no assunto”, afirma.

Entretanto, muito ainda se deve aprimorar no trabalho jornalístico voltado para a área. É preciso que os veículos entendam os fatos que envolvem crianças e adolescentes como uma situação de política pública.

A Rede ANDI orienta aos jornalistas que evitem identificar a criança ou adolescente envolvido, que não publique foto, que tenha cuidado redobrado ao entrevistar a vítima. Mas a própria legislação brasileira é ambígua na hora de definir o que deve e o que não deve mostrar em uma matéria. Na hora de escolher o que publicar, depende muito da percepção do jornalista que está em campo, cobrindo a matéria e do seu conhecimento sobre a legislação. “O que nós questionamos é se é realmente necessário uma exposição grande sobre um fato”, diz Carolina.

Com esses questionamentos e exemplos, a palestra foi importante, pois permitiu que observássemos com mais cautela como a mídia trata assuntos envolvendo crianças e adolescentes na pauta da discussão ética. Muitas vezes, o assunto passa despercebido por nós. Vimos que é essencial que os jornalistas tratem o assunto com mais seriedade e compromisso. A preparação para abordar acontecimentos relacionados ao tema é primordial, visto que uma reportagem que menciona qualquer informação que seja possível o reconhecimento da criança, pode gerar danos profundos na vida desta pessoa e dos seus familiares.

A mídia, muitas vezes, em busca de audiência, ignora a legislação e expõe crianças e adolescentes a situações vexatórias. Repórteres despreparados são colocados para cobrirem os fatos, forçando crianças vítimas de violência a darem entrevistas repetitivas, em busca de revelações e detalhes inéditos dos casos.

Além disso, podemos perceber que apesar do crescimento do tema na agenda midiática, poucas matérias tratam o assunto de forma mais ampla. A grande parte das matérias envolvendo crianças e adolescentes trata do episódio de violência sofrido ou praticado pelo menor, sendo que, na maioria das vezes, o acontecimento é algo maior, reflexo da pobreza, falta de acesso a educação, questões culturais e sociais. Pouco tem-se falado sobre políticas públicas em nosso dias, por isso instituições como a ANDI e a Oficina de Imagens fazem um trabalho importante na conscientização dos próprios jornalistas, atingindo, assim, toda a sociedade.