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Logo da radio |
Por Lais Seixas e Julia Falconi
Há mais de 30 anos no ar, superando os momentos de dificuldade, a sobrevivência da rádio Favela Fm mostra, cada vez mais, aos moradores a sua resistência e divulga a cultura da comunidade aos espectadores.
Há mais de 30 anos no ar, superando os momentos de dificuldade, a sobrevivência da rádio Favela Fm mostra, cada vez mais, aos moradores a sua resistência e divulga a cultura da comunidade aos espectadores.
Belo Horizonte, uma capital que tem seu fluxo através
da cultura, lazer, entretenimento e seu jeito mineirinho de ser tem também um
longo histórico de marcos civis muito interessantes e se esconde em sua
ideologia mais humilde. Na região metropolitana vive o Aglomerado da Serra, classificado
como a segunda maior comunidade do Brasil, possui uma divisão em oito vilas. Estima-se
que cerca de 160 mil pessoas habitam a comunidade. A partir de uma entidade
comunitária, Associação Cultural de Comunicação Comunitária Favela FM, o local
ganhou uma voz e uma nova estrutura de lazer e entretenimento. A Rádio Favela,
sintonizada no canal 106,7 proporcionou uma voz e uma vida ao Aglomerado, e
desde sua origem, a "voz do morro" partiu para as ruas da comunidade.
A Rádio começou a operar em 1981 em condições
precárias: transmissor à bateria, toca discos à pilha (a energia elétrica ainda
não havia abrangido o local da comunidade), e equipamentos que quem manuseava
teria que driblar, inovar e improvisar. A rádio foi fundada voluntariamente
pelos moradores da vila Nossa Senhora de Fátima (uma das oito que estruturam o
Aglomerado), com intuito de criar um espaço de cunho educativo, musical e
cultural, a fim de divulgar a música e cultura negra, conscientizar os jovens
do Aglomerado em relação aos
problemas com drogas e violência e se manifestarem contra a discriminação aos
moradores da favela.
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Tarcísio Mauro Vago e Wemerson de Amorim, apresentam programa semanal na Rádio Favela |
O sistema de monopólio da radiodifusão vigente no país
sempre foi o maior obstáculo às atividades da Rádio Favela, assim como a todas
as iniciativas populares no campo da comunicação de massa. Com isso a rádio
inicialmente foi ao ar de forma ilegal e, devido a uma forte repressão que
ocorria na época no país, teve de viver "às escuras". A
"voz" da comunidade era transportada frequentemente pela favela, indo
de barraco em barraco e ampliando, cada vez mais, o número de pessoas com ela
envolvidas. Embora o funcionamento da Favela FM tenha sido marcado por
interrupções politicas e perseguições policiais, a rádio resistiu e permaneceu
no ar. A Favela FM se legalizou 15 anos após sua origem e hoje é filiada à
Amarc Brasil (Associação Mundial de Rádios Comunitárias).
A Favela FM conquistou um público curioso e espectadores
animados com a novidade local, hoje, o alvo são os jovens de 10 anos à adultos
de aproximadamente 50, a maioria são do sexo feminino e pessoas da classe B e
C. Assim como a rádio, os programas são comunitários, a interação é mutua e a
receptividade é grande, os espectadores, principalmente os moradores da
comunidade, participam e opinam, não só através de telefonemas durante a
programação mas, também, ao entrar pelo portão da própria rádio para participar
ao lado do locutor. "A programação da rádio é a extensão da conversa do
povo na rua... é a amplificação do bate-papo", explica um dos fundadores
da Rádio e seu atual diretor-presidente, Misael Avelino dos Santos, 42 anos.
Hoje em dia o conceito da rádio é tão grande que já se
tornou mundialmente conhecida e vem ganhando muito reconhecimento dos seus
ouvintes, dentre tantos reconhecimentos, o maior, um prêmio da ONU (Organização das Nações Unidas)
que foi outorgado ao presidente da Favela FM, Misael, Derimar e seus
companheiros de luta pelo trabalho contra a disseminação de drogas, a
prostituição e a todos os tipos de problemas que se abate aos moradores do
Aglomerado da Serra.
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Aglomerado da Serra, onde está localizada a Radio Favela |
A dona de casa, Marilda Andrade, 42 anos, diz que a
rádio sempre esteve presente no dia-a-dia dela e a ajuda muito no momento de
distração, "Assim que acordo sintonizo a rádio porque preciso de uma
companhia para arrumar a casa e quando me dou conta, só volto a desligar no fim
da tarde", declara Dona Marilda e completa, "O que gosto na rádio é
que os apresentadores falam sempre de tudo, desde culinária à saúde, e isso é
essencial para uma dona de casa que nem eu". Já o espectador e estudante,
Thiago Melo, 17 anos, ouve a rádio assim que pega a condução para ir para o
colégio, e quando está voltando, e afirma que as programações são sempre muito
envolventes e o estilo bem variado, o que quebra um pouco da visão conservadora
que as pessoas têm de uma rádio comunitária, "Gosto da rádio porque os
apresentadores falam diretamente pra comunidade e nos dá a oportunidade de
participar como quisermos", afirma o estudante.
Sem fins lucrativos e mesmo com os recursos escassos que à principio possuía, a
rádio Favela FM foi se instituindo e conquistando, não só o Aglomerado, mas
toda a região metropolitana de Belo Horizonte.
Embora
a resistência da rádio ainda seja maior na comunidade, a rádio se estabeleceu e
mudou os conceitos de uma sociedade, a partir de uma história de repressão,
muita luta, mas grandes vitórias. O alvará de funcionamento da Favela FM
fornecido pela Prefeitura de Belo Horizonte chegou em 1996 e, a partir dessa
data a rádio entrou nas leis, fortaleceu seu caráter comunitário e se instituiu
como uma entidade cultural, falando do alto do morro, para mais de 160 mil
pessoas.
Melhor rádio que já ouvi, amuuu!
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