sexta-feira, 30 de março de 2012

Filme " Todos os homens do presidente"


Dois anos depois da renúncia de Nixon, o caso Watergate foi retratado no cinema sob o comando de Alan J. Pakula

17 de junho de 1972. A principal manchete nos jornais norte-americanos é dedicada a um assalto ocorrido na sede do partido democrático, o edifício Watergate. É um ano eleitoral e o então presidente Richard Nixon compete com o democrata George McGovern pela vitória nas urnas. O acontecimento, inicialmente considerado trivial pelas autoridades – ladrões em busca de dinheiro e outros pertences valiosos – estava fadado a entrar para a história como um marco no rumo político dos Estados Unidos e na função investigativa do jornalismo.
A notícia foi parar nas mãos de Bob Woodward, jornalista que há menos de um ano atuava como repórter no tradicional jornal nova-iorquino The Washington Post. Woodward, ao descobrir que um dos assaltantes envolvidos na ocorrência havia recebido um cheque de 25 mil dólares proveniente do Comitê de Reeleição Presidencial de Nixon, muda o rumo da reportagem, tornando-a investigativa em vez de meramente noticiosa. Junto a Carl Bernstein, repórter mais experiente e também interessado em desvendar o caso, o jornalista mergulha em uma complexa rede de investigação dos processos de corrupção realizados durante a campanha presidencial. Conhecido posteriormente como “Caso Watergate”, as denúncias de Bernstein e Woodward, apesar de não terem impedido a reeleição do presidente, estão diretamente relacionadas com sua renúncia, em 1974, depois de ter confessado a responsabilidade pelo esquema de caixa dois em favor de operações de espionagem contra o Partido Democrata. Nesse mesmo ano, os jornalistas responsáveis pelo caso publicaram o livro Todos os Homens do Presidente, transformado em filme em 1976 pelo cineasta Alan J. Pakula.
O filme, apesar de ter sido lançado apenas dois anos depois da renúncia de Nixon, não poupa esforços para reforçar a denúncia da vergonhosa corrupção, falta de caráter e desonestidade da campanha republicana norte-americana. O que o deixa ainda mais interessante é que a história é contada não sob o ponto de vista político, mas sob o jornalístico. O diretor, que já havia demonstrado talento em retratar histórias polêmicas (A Escolha de Sofia, de 1982, e Inimigo Íntimo, de 1997), desdobra a trajetória da apuração feita por Woodward (Robert Redford) e Bernstein (Dustin Hoffman), os truques desempenhados pela dupla para conseguir informações relevantes e o resultado final: uma série progressiva de reportagens cheias de fatos concretos, polêmicos e de grande interesse público. Um dos destaques é a atenção dada ao “Garganta Profunda”, pseudônimo de Mark Felt, que, na época, ocupava o segundo cargo mais importante no FBI. Felt, sob a condição de se manter anônimo por tempo indefinido, revelou informações cruciais para que o Washington Post concretizasse sua denúncia.
O caso Watergate é, ao mesmo tempo, indecoroso e digno. O primeiro por inaugurar uma era da política ocidental em que a corrupção é parte integrante do processo e o segundo por afirmar o papel social investigativo do jornalismo, que tem o poder de mudar o rumo da história. Todos os Homens do Presidente é o retrato realista do resultado de muita apuração, raciocínio e coragem, que culminaram na divulgação de um dos muitos desvios de conduta já praticados pela sociedade.

Podemos considerar Todos os homens do presidente um filme paradigmático para o estudo das teorias do jornalismo contemporâneo.



Postado por Rafaela Borges e Raquel Rodrigues

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