quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ser jornalista: bate-papo com Maurício Lara


Por Lucas Rodrigues*

Fotos: Pedro Cunha

Na última quarta-feira, a professora Ana Paola Amorim convidou, para um bate-papo sobre nossa futura profissão, o jornalista Maurício Lara, que tem formação de administrador de empresas e que, em seus trinta anos de carreira jornalística, já trabalhou em jornal local, nacional e sindical. Além de haver concluído o curso de Administração, antes de fazer Jornalismo, Lara é sócio de um instituto de pesquisa, mas garante que nunca teve dúvida da sua vocação primeira, afinal, segundo ele, “o sujeito começa a ser jornalista quando atende o telefone para a mãe, já anotando recado.” Atualmente, Lara escreve matérias para o caderno Gerais, do Estado de Minas, e recentemente, por mudanças de estrutura do jornal, deixou de registrar suas histórias do cotidiano na coluna “Pois É”, depois de quase quatro anos e cerca de 500 crônicas.

Em uma prosa séria, mas descontraída, o jornalista debateu temas atuais e polêmicos, como internet, imprensa mineira e a prática jornalística. E cravou: “enquanto o computador não aprender a criar, o jornalista terá trabalho.”

Ao analisar o jornalismo, Lara costuma utilizar dois pares de termos semelhantes para duas situações distintas, mas interligadas. Segundo ele, é uma profissão “doida e doída.” “Doida” porque você nunca sabe o que te espera: é rotina entrar em uma redação e descobrir naquele momento o que você irá cobrir. E isso tem o seu valor. Já “doída”, se refere, por exemplo, às “300 matérias sobre INSS ou sobre crianças sem lar que os jornalistas são obrigados a testemunhar e noticiar durante a carreira”. Afinal, esse é um quadro que dificilmente irá mudar. Além disso, para exercer a profissão, deve-se ter “compaixão” e fazê-la “com paixão”: “o jornalista deve dar o mesmo grau de importância à uma simples história de um cidadão comum e à compra de um grande banco”, sendo assim, é fundamental que ele sinta amor pelo ser humano e pela profissão.

A internet, muito relacionada ao trabalho do jornalista atualmente, é, na visão de Lara, a coisa mais próxima do buraco sem fundo, o infinito. “Uma possibilidade fantástica, mas um perigo, porque aceita tudo.” Para ele, o complemento – na apuração – pode ser feito na internet, mas a essência da matéria deve continuar sendo buscada na rua, onde ela acontece. Aproveitando o gancho, se o jornal virtual já o cativou, ele diz que continua lendo o jornal no banheiro, e se for o caso, leva o laptop para lá.

Em relação à imprensa mineira, até porque Lara trabalha no jornal mais popular do estado, ele acredita que sim, existe uma pressão sobre ela. E exemplificou: quando Aécio Neves foi flagrado no Rio de Janeiro pela Lei Seca, um sujeito na redação argumentou dizendo que estavam usando muito esse negócio de pegar gente famosa na Lei Seca, que isso já estava sendo muito promovido pela polícia. Lara se questiona: “quando ele falou isso em cima do fato do Aécio Neves, eu fiquei me perguntando se ele não estava justificando, na consciência dele, o fato do jornal não ter dado importância àquilo. Quer dizer, ele estava achando uma justificativa para ele mesmo.”

Ainda sobre a imprensa, ele avalia que, na recente manifestação dos professores, não era possível saber o argumento de ninguém: “os jornais não conseguem fazer uma cobertura que seja equilibrada. O sindicalismo é muito ruim em serviço quando ele fica parando o trânsito na Praça Sete, prejudicando gente que está passando mal, que está indo buscar criança na escola. Por outro lado, o governo fica com uma série de conversas que você não entende. A mídia não desempenha o papel que poderia desempenhar. Faz mal seu papel.” Segundo Lara, com cuidado, os jornais que explicitam a sua opinião dizendo “tenho um lado, sim, é este lado aqui”, podem colher frutos, já que eles estão numa situação de buscar um caminho ou vão acabar: “ninguém vai comprar um jornal pra saber quanto que foi o jogo de ontem. Todo mundo já sabe, nem que seja pelo celular.” E o fato de terem que procurar outro caminho também é positivo na medida em que “é possível retomar a ideia das grandes reportagens, além de surgir pautas mais criativas, diferentes, onde haveria um financiamento para a viagem do repórter.” Ele cita o exemplo do próprio Estado de Minas, que anda investindo em matérias mais aprofundadas.

Dentre os temas discutidos no encontro, a imparcialidade, para o jornalista, é difícil de alcançar tanto quanto aquela espiga de milho pendurada na frente do burro. Já a banalização do off pode ser salva pelo lado peão do jornalismo. “Um jornalismo apurativo, se é que ele existe: temos que buscar a grafia correta, a data correta, a informação correta.” Aliás, segundo Lara, o dia em que a vendagem de um jornal for definida pela sua qualidade, estaremos no melhor dos mundos.

Maurício, que nos concedeu esse bate-papo sobre experiências que estamos buscando, pensando na atividade jornalística, lembrou o quão importante é a nossa essência. No nosso mundo pós-moderno, ávido por novidades, essa lembrança nos faz refletir que talvez seja bom, de vez em quando, olharmos pra nós mesmos.

Afinal, “aspas são aspas” e, se o jornalista está sendo fiel ao fato, a ética não é comprometida.

*Editado por Diego Suriadakis e Pedro Cunha.

Colaboraram Bruno Dávila e Vitor Mello.

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