quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Veja e News of the World: comparações possíveis?

por Ana Paola Amorim

“O poderoso chefão” é o título da polêmica reportagem da revista Veja de 31 de agosto sobre supostas “atividades clandestinas” do ex-ministro José Dirceu, um dos denunciados no processo do “mensalão”, em tramitação no Supremo Tribunal Federal. Segundo a reportagem, Dirceu estaria mantendo, em um quarto de hotel cinco estrelas em Brasília, um gabinete onde conspiraria contra o governo da presidenta Dilma Roussef. As reações no meio jornalístico foram motivadas pelos métodos utilizados na apuração da reportagem. A proximidade do acontecido com o fechamento do tablóide britânico “News of the World” por uso métodos ilícitos na apuração de suas reportagens estimulou análises que apontavam semelhança dos casos. Seriam manifestações de um problema comum à imprensa como um todo?

Essa questão foi apresentada aos alunos matriculados na disciplina de Legislação e Ética Jornalística, do curso de Jornalismo da Fumec, com a proposta de fazer um texto coletivo. No entanto, foram produzidos pelo menos dois bons textos sobre o caso, com abordagens diferentes. Um texto foi produzido em conjunto pelas alunas Amanda Gama e Ana Flávia Belloni e o outro, pelas alunas Elisa Heringer e Larissa Borges. Optamos por apresentá-los na íntegra, compondo um debate oportuno sobre ética profissional. Os textos estão na sequência, abaixo.

O caso levanta questões graves que têm sido muito discutidas, embora nem sempre aprofundadas, sobre métodos de apuração, tais como uso excessivo de declarações em off, câmaras escondidas etc. Em pauta, o risco de banalização do conceito de jornalismo investigativo. Outra questão, muito importante, é a relação da imprensa com a política. Há um trecho do texto de Amanda e Ana Flávia, que tomo a liberdade de destacar, sob alerta de que, como se trata de um extrato, prejudica o contexto. Mas levanta uma questão importante: “Para a opinião pública, tratando-se de ética ou não, todos ficam satisfeitos em saber que estão por dentro do que ocorre na política, uma área que nunca mereceu muita confiança”. Penso que essa última observação da frase, da política como área de desconfiança por definição merece também atenção de todos nós. É assunto para outra pauta específica. Não estaríamos nós a alimentar a espiral do cinismo ao reforçar estereótipos sem esclarecê-los? Só uma pergunta.

Convidamos aos leitores do blog que participem do debate com seus comentários. O sempre repórter Ricardo Kotscho, em seu blog, saiu em defesa da profissão: “Não tenho procuração para defender o ex-ministro José Dirceu, nem ele precisa disso. Escrevo para defender a minha profissão, tão aviltada ultimamente pela falta de ética de veículos e profissionais dedicados ao vale-tudo de verdadeiras gincanas para destruir reputações e enfraquecer as instituições democráticas”. Para íntegra do post: http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2011/08/29/reporter-nao-e-policia-imprensa-nao-e-justica/print/. Compartilhamos dessa abordagem. É isso que queremos colocar em pauta.

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