sexta-feira, 2 de setembro de 2011

12 homens, uma sentença e múltiplas abordagens



Por Larissa e Elisa


Claustrofobia, tensão e incertezas. Ao menos esses sentimentos são evocados em quem assiste ao filme "12 homens e uma sentença", dirigido por Sidney Lumet em 1957. Filmado em preto e branco e ambientado dentro de uma sala pequena, em um dia quante do verão nova-iorquino (são duas tomadas externas durante todo o longa), a obra de Lumet pode ser analisada de diversos ângulos. E, talvez, foi produzida com esse propósito.

No longa, um júri composto por 12 homens é convocado para decidir a sentença de um crime. Um jovem de 18 anos é acusado de matar o pai. Culpado ou inocente? O veredicto deve ser unânime, sendo que a sentença de culpado leva à cadeira elétrica. Para acabar logo com o julgamento, onze dos jurados votam que o rapaz é culpado. Mas, o jurado número oito (interpretado por Henry Fonda) vota inocente. Como argumento afirma: "Quando há 11 votos para culpado não é fácil, simplesmente, levantar a minha mão e mandá-lo para a morte sem conversar primeiro". A partir daí, o filme se desenrrola e as provas apresentadas pela promotoria, que justificavam os fatos, vão sendo refutadas. A personalidade de cada integrante do grupo também começa a aparecer e vamos percebendo que, por trás de cada sentença, existem experiências de vida, preconceitos, mágoas, desinteresse e falta de opinião.

Alguns pontos chamaram a nossa atenção na obra. Primeiro, o cenário. A sala é desconfortável, pequena, quente. Tudo isso gera uma sensação de sufocamento, de ansiedade e impaciência. É nessa atmosfera que os jurados precisam decidir a vida de uma pessoa desconhecida. Todo o ambiente estimula a rapidez na tomada de decisão, a vontade de se ver livre daquela situação incômoda. Segundo, como os personagens são apresentados. Durante grande parte do filme não sabemos o nome dos personagens e, creio que nem seja preciso. Existe no nosso cotidiano, todos os tipos humanos representados no filme. O indeciso, o que parte para a violência física quando não tem argumentos, o indiferente, o burocrático, o sensato. Isto torna a obra atemporal, além de ser uma crítica (ou sátira, por que não?) do comportamento humano.

E terceiro, mas não menos importante, a questão da dúvida razoável. O que é verdade? Existe uma verdade absoluta, inabalável? O filme nos mostra que devemos sempre repensar as nossas decisões, consolidar os nossos argumentos da maneira mais insenta possível. Não insenta de subjetividade, mas de juízos pré-concebidos por outros e por nossas vicências. Prestar atenção nos detalhes, nas entrelinhas, no que está oculto por trás dos relatos sobre os fatos. Diferenciar a verdade factual da verdade construída. A factual é o assassinato do pai e ponto. A construída são as versões dadas para esse fato, o que foi dito pelo réu, pelas testemunhas e pelos advogados. (Atenção: não se prenda a essas definições!). E, é nesse ponto, que percebemos o quanto o filme se aproxima do jornalismo.

Acreditamos que um dos princípios do jornalismo é questionar. Assim como Henry Fonda questiona a opinião dos jurados, fazemos o exercício diário de questionar, não os fatos em si, mas as interpretações que nos são dadas de um fato. Esse questionamento é visto mais claramente no processo de apuração. Por isto apurar é uma das tarefas mais difíceis e importantes na profissão. Exige faro, dedicação, argumentos bem elaborados, abordagens diferentes, investigação, suposições e objetividade.

A tão idealizada objetividade jornalística... Quando falamos de objetividade aqui, não nos referimos a objetividade que busca a imparcialidade total, mas como método. Usar a objetividade como estratégia na hora de colher as informações sobre o fato. Tentar encontrar o ponto em que relato e fato estão desencaixados, já que o problema em si não é o fato, mas o como e o por quê daquele acontecimento. Além dos mais, já está mais do que provado que o nosso relato é mais uma versão do fato ocorrido, pode ser a versão mais plural de todas, mas não é a única nem a mais certa.

Talvez por isso a necessidade de se ter um código de ética na profissão. Para nos fazer examinar a nossa consciência na hora de praticar o jornalismo. Para refletir sobre o poder das palavras, as consequências que o seu uso mal empregado pode causar na vida de alguém. Para lembrar que sempre há, no mínimo, dois lados para um mesmo acontecimento. E para não esquecer que somos humanos, não deuses. Portanto, falhamos.

Assista um trecho do filme:

Um comentário:

  1. Só mesmo o Aleph para ter ciência de todos os pontos de vista.

    Para nos, seres precários, há de ser exigido a eterna cobraça do questionamento.

    Palmas ao personagem de Henry Fonda, o único capaz de disseminar dúvidas.

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