quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Veja e os métodos de apuração

por Elisa Heringer e Larissa Borges

A revista Veja de 31 de agosto de 2011 trouxe na capa José Dirceu com os dizeres: o poderoso chefão. Na reportagem de Daniel Pereira e Gustavo Ribeiro o ex-ministro da casa civil é denunciado por manter um gabinete dentro de um hotel em Brasília, onde recebia políticos importantes e conspirava contra o governo da presidente Dilma.

A polêmica da questão é devido às supostas provas que a revista conseguiu. O repórter Gustavo Ribeiro enganou a camareira do hotel para entrar no quarto. Sem obter sucesso na ação o repórter fugiu. A invasão ao quarto de Dirceu foi denunciada e registrada na 5ª Delegacia de Polícia.

Além disso, a reportagem traz imagens dos políticos que visitaram o ex-ministro, supostamente sendo do circuito interno do hotel. Segundo Luiz Eduardo Nascimento, em seu texto no observatório da Imprensa (29/08/2011), estas imagens não seriam do circuito interno, mas sim de uma minicâmera espiã wi-fi. De acordo com Nascimento, as imagens apresentadas pela revista não mostravam a data e o horário da gravação, teria uma resolução inferior às das câmeras de circuito interno, e, além disso, o posicionamento da câmera não privilegiava a tomada de todo corredor do hotel, mas apenas de uma parte.

Com todos estes elementos apresentados a denúncia da revista Veja pareceu ser frágil e inconsistente, segundo Alberto Dines, em seu artigo no Observatório da Imprensa (30/08/2011). Dines afirma que a matéria “recoloca o jornalismo político brasileiro na Era da Pedra Lascada”. E Dines tem razão. Ao analisar as provas apresentadas podemos perceber a intenção da revista em derrubar a imagem de José Dirceu com insinuações e provocações.

A comparação com o caso da revista Veja ao escândalo do jornal News of the World é inevitável. O jornal de Rupert Murdoch adotava práticas de investigação semelhantes, obtendo escutas ilegais de mensagens telefônicas, pagamento de propina a policiais, entre outras coisas.

Ambos os casos demonstram como a prática jornalística feita sem ética pode resultar em acusações falsas e escândalos. A mídia não pode ter um poder sem controle e limites. O Brasil e o mundo precisam urgentemente parar e refletir sobre o poder da comunicação e sua necessidade de regulamentação.

Não é de hoje que a revista Veja é protagonista de episódios de falsas denúncias. Por trás de tudo isso, sabemos que existem interesses maiores e mais complexos que envolvem denúncias a políticos e partidos. Prova disto, foi que a reportagem da Veja foi noticiada nas emissoras Record e SBT, e silenciado na Folha, Estadão e Globo.

Se, no Brasil, houvesse uma lei mais rígida contra os abusos da imprensa, a revista Veja seria processada, jornalistas presos e empresas desistiriam de anunciar no veículo. As portas se fechariam da mesma forma como aconteceu com o tablóide britânico.

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